sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Entrevista na época da Safira ! Tava falando dela na escola, daí bateu saudades


Cláudia Raia assume que se orgulha de sua extravagância. "Sou sexy, grandona e bonita mesmo", avalia, sem resquícios de modéstia. Do alto de seu 1,80 m - além de alguns outros centímetros do salto altíssimo -, gestos expansivos, voz grave e um porte de bailarina, a atriz não consegue mesmo passar despercebida. Na pele da sensual e divertida Safira de "Belíssima", a atriz garante que a grega que coleciona ex-maridos na trama das oito da Globo é sua personagem preferida na tevê. "Ela é a mais completa que o Silvio me deu", assegura, com o mesmo tom de chanchada tão comum às tramas de Silvio de Abreu.

A identificação da atriz paulista de Campinas com a personagem inspirada no glamour da década de 50 se deve aos visíveis recursos que Safira oferece, como a ambientação dramática por viver numa família grega, aliada ao tom cômico de seus tropeços atrapalhados. Isso tudo é somado ao lado fortemente erotizado da personagem na cenas "calientes" com o engraxado Pascoal, de Reynaldo Gianecchini. "Ela anda apertadinha naquelas saias e vive se roçando porque tem de andar miudinho. Isso explica todo aquele fogo", diverte-se a atriz, que completa 40 anos em dezembro.
::Entrevista
Das treze tramas que você atuou na tevê, oito foram do Silvio de Abreu. Você concorda que grande parte de sua carreira na tevê foi conduzida pelos textos dele?Cláudia Raia - Sem dúvida. Somos amigos há 20 anos e esse é o momento mais maduro dele comigo. E a Safira é a personagem mais completa que ele já escreveu para mim. Já tive uma vilã maravilhosa e grandes personagens de comédia, como a Tancinha, a Maria Escandalosa e a Ramona. Mas a Safira tem diversos caminhos a serem explorados. Ela é múltipla por ser dramática, engraçada, mimada, mãe e cinco vezes ex-esposa. Ele me deu uma mulher curinga, que pode ir para vários lados.

De que forma essa intimidade com o Silvio de Abreu interfere nas suas personagens?Cláudia - Quando ele me chama para fazer uma novela, aceito sem nem perguntar o que é. A intimidade gera isso. Conhecemos muito a linguagem um do outro. Por isso, quando ele escreve, parece que fui eu que assinei o texto. Ele conhece muito o meu jeito e sempre me cutuca. Diz que quanto mais eu melhoro como atriz, mais ele piora a minha vida (risos). Adoro isso porque ele conhece meus truques como atriz e me dá caminhos cada vez mais distorcidos. Ele não é um autor, é um pai que eu tenho.

O autor se inspirou em divas dos anos 50 para criar a Safira. De que forma esse figurino retrô influenciou na sua composição?Cláudia - Totalmente. O Silvio queria que ela fosse uma coisa assim meio Sophia Loren, meio Melina Mercouri, uma atriz grega belíssima, que é minha grande referência nessa personagem. Ela é uma mulher que compra tudo no brechó e o resto é feito por sua mãe, em casa mesmo. Ela usa óculos enormes do tipo "abelhão" com armação de tartaruga. Nada dela é de marca. As saias são sempre muito justas, embaladas a vácuo (risos), com a lingerie aparecendo, bem no estilo da marca Dolce & Gabanna. Outro dia eu estava pensando que o figurino realmente ajuda muito, principalmente a saia-lápis.

Por que a saia?Cláudia - Porque com ela a Safira só consegue ter um andar miudinho, curtinho. Aí eu pensei: "Se ela anda toda apertada, se roça o dia inteiro. Isso explica aquele fogo todo que ela tem e não suporta". Eu e o (Reynaldo) Gianecchini, fizemos com que ela e o Pascoal fossem atraídos como ímãs. Quando eles se vêem, são puxados pelo peito, eles morrem de tesão e não conseguem ficar longe um do outro. É quase um balé. Digo que a diretora Flávia Lacerda, que nos dirige na maioria das cenas, é quase uma coreógrafa. Ela é nossa Deborah Colker!

Nas cenas em que Safira e Pascoal aparecem juntos, sobe a audiência da novela...Cláudia - Meu Deus! Nem sabia disso! Eles têm muito tesão, trabalham no mesmo diapasão. É difícil juntar um casal que combine na mesma linguagem corporal, na pele e no timbre de comédia. É impressionante como o público abraçou essa relação que não é convencional. Pelo contrário! É torta, escondida, proibida. Muito mais sexual do que romântica, embora acredite que eles são muito apaixonados e vão terminar juntos. Acho também que a figura do Giane combina com a minha.

Combina como?Cláudia - Somos bonitos juntos. Mas não é só isso. Química não se explica. Também tenho isso com o Alexandre Borges, que vive o Alberto na novela. Toda vez que a gente contracena, em todos os trabalhos, os personagens sempre pegam fogo (risos).

A grande maioria das suas personagens são muito sensuais. Esse "estigma" alguma vez incomodou?Cláudia - Sempre que tem sensualidade nos meus personagens é de uma forma muito fatal. Eu tenho esse "physique du rôle". Sou uma mulher sexy, extravagante e muito grande. Nunca neguei isso. Posso ser bonita e boa atriz. Tem gente que nega isso, mas eu assumo. Isso é mais um atributo. Mas também adoro fazer personagens como o Tonhão (a homossexual estereotipada de "TV Pirata"), colocar o barrigão de fora e prender os peitos. Não tenho o menor pudor em ficar feia. Mas isso é leve e tenho humor. O Miguel Falabella diz que eu desço a escadaria poderosíssima e todos babam. No penúltimo degrau eu tropeço, caio e quebro o salto (risos). Sou isso aí. Sou uma galhofeira. É esse o comportamento que eu tenho diante da vida.

Você se sente muito à vontade na comédia. Quando você estreou no "Viva o Gordo", em 1981, já sabia que queria seguir essa linha?Cláudia - Que nada! Não tinha noção nem de que seria atriz. Fui chamada pelo Jô (Soares) e achei que iria fazer figuração porque sou alta, com corpão e que iria passar para lá e para cá de biquíni. Ele foi a primeira pessoa a me dizer que eu era uma comediante nata, que tinha o tempo e a percepção da comédia. A comédia é uma maneira de ver a vida. Isso se tem desde o berço. A técnica se adquire ao longo da vida. Nasci com um olhar para a comédia. Assistia aos filmes do Jerry Lewis e ria antes, quando ele armava a piada. Não gosto de nada sério na vida. Tudo para mim é engraçado. Acho cafona ver a vida com tanta seriedade.

Você nunca fez um curso de interpretação. Isso lhe fez falta em algum momento?Cláudia - Sempre achei que não ia dar certo como atriz. Minha cabeça sempre me guiou para continuar sendo bailarina, mas me chamavam para representar, depois cantar, e fui fazendo, as coisas foram acontecendo. O fato de nunca ter feito um curso de arte dramática me deu um certo pânico em uma época. Sempre me perguntava: "Como estou fazendo uma coisa que não estudei?". Eu sou muito CDF. A dança sempre me exigiu muito estudo, muito preparo, muito ensaio. Mas a vida foi minha escola como atriz. Da mesma forma que a Safira aprendeu com a vida, com cinco ex-maridos, eu aprendi emendando um trabalho no outro.

Você diria que ela está no rol das personagens mais marcantes da sua carreira?Cláudia - Acho que sim. Essa novela foi a que me deu mais prazer de ter feito na vida. Me divirto desde a hora que estudo em casa até o momento que chego no set e quando acabo de gravar. Fiz muitas novelas, mas essa é diferente. Não tem um dia que eu não acorde com vontade de não sair para gravar. Nas ruas eu fico emocionada com as pessoas dizendo que eu sou a alegria da casa delas, que elas choram de rir comigo.


PASSO A PASSO - Cláudia Raia nunca pensou em deixar de ser bailarina para virar atriz, mas a "troca" de carreiras aconteceu naturalmente. Há mais de vinte anos, a atriz conseguia tempo disponível para dançar oito horas por dia. Mas, com seu crescente envolvimento com o teatro e a televisão, restou cada vez menos tempo para que ela pudesse se dedicar aos passos do balé, prática que exerce desde os três anos de idade. "A não ser quando eu faço um musical. Aí me programo para fazer pelo menos uma hora por dia de aula de dança. Isso deixa meu corpo preparado para qualquer personagem", garante a atriz, que no dia 15 de julho começa a ensaiar o musical "Sweet Charity" em São Paulo, com estréia prevista para o dia 13 de setembro. "Não vou ter férias. Vou passar dois meses "internada" em São Paulo assim que acabarem as gravações da novela", constata a atriz.
Esse preparo, proporcionado através da flexibilidade adquirida com a dança, é um dos trunfos na composição das personagens, segundo Cláudia. "Isso me ajuda a ter um controle físico. Quando fiz a Ângela, por exemplo, tive de controlar meu jeito "italianona" e parar de mexer os braços. Era quase robótica. Isso foi um sacrifício louco, porque sou a Carmem Miranda em pessoa", diverte-se ao lembrar da vilã de "Torre de Babel".

A FUGA DO RISO - Apesar de se sentir mais à vontade em personagens cômicas, Cláudia prefere citar seus papéis mais dramáticos como os mais marcantes, como a Engraçadinha, da minissérie "Engraçadinha... Seus Amores e Seus Pecados".
"Sinto falta também de grandes vilãs, que adoro. Também quero fazer uma mocinha atípica, até porque não tenho voz, tamanho ou carinha de uma mocinha convencional", constata.

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